Nível do Rio

31/10/2025
metros
0

Situação

Vazando

Vazou: -4.00cm
Vazou até hoje
9.96m

Calados

aproximados nos berços

TORRES: 24.27m / ROADWAY: 23.37m / PLATAFORMA MALCHER: 7.43m / PAREDÃO: 0.11m

HOME / NOTÍCIAS

Valderino Pereira da Silva: Homem da Medição da cota do Rio Negro

WhatsApp
Facebook
Twitter

A história e vida do engenheiro civil VALDERINO PEREIRA DA SILVA, em muito se confunde com a própria história do Porto de Manaus. Apesar de alguns afirmarem que o Valderino está lá desde 15 de setembro de 1902, isso não é verdade. Nessa data, sim, foi iniciada a leitura da Cota D’água do Rio Negro, com réguas linimétricas instaladas nas antigas estacas do Porto, a quem ele deu soberba credibilidade.

Valderino, na verdade, foi admitido no Porto de Manaus no ano de 1967, sendo a sua primeira função a de encaixotar louças e cristais, em um lugar do Porto denominado ADEGA, pertencente aos ingleses, que estavam voltando ao seu país de origem, devido a nova administração do Porto estar sendo repassada ao Governo Militar da época, na chamada Revolução.

No ano de 1968 foi servir ao Exército Brasileiro, retornando ao Porto em 11 de agosto de 1969 para nunca mais se afastar de um lugar onde trabalhara, também, o seu pai Adoner Pereira da Silva. Em 1975 formou-se no Curso Técnico de Edificações, pela Escola Técnica Federal do Amazonas, sendo eu um dos seus colegas de turma, juntamente com o Antônio da Marcenaria, já falecido. Depois de formado, no ano de 1976, começou a trabalhar no SETENG, o Setor de Engenharia, onde iniciou, em substituição a José Cavalcante PAIVA, o trabalho que mantém até aos dias de hoje, que é o de fazer a leitura diária da Cota do Rio Negro. Naquele tempo era feito com a utilização de um guindaste instalado no Paredão. Os números de hoje e o local foram idéia dele. De lá pra cá já o chamaram até de “Senhor das Águas”!

Engana-se, porém, quem pensa que essa é a única atividade dele. Sendo o Porto de Manaus de características únicas e secular, a sua manutenção corretiva e preventiva é tarefa diária e pesada. São pontes metálicas de ligação entre os pátios e cais flutuantes, com seus mancais e limitação de carga a exigir um esforço contínuo; são os sistemas de ancoragem dos flutuantes, com acionamento quase diário de molinetes e amarras, conforme o Rio Negro sobe ou desce; é o cuidado permanente com as bóias cilíndricas do tempo dos ingleses que sustentam os cais; a vistoria dos pavimentos em concreto dos pátios do Paredão e Terminal de Contêineres; a avaliação e recuperação das defensas dos flutuantes; as manutenções elétricas, hidráulicas, sanitárias e de prevenção contra incêndio; entre outras tantas. Passa, então, por suas mãos e cabeça, como percebem, toda a logística que antecede e precede as operações de embarque, desembarque e movimentação de veículos, passageiros e cargas, cabendo a ele, ainda, o aprimoramento de cada tarefa, acompanhando as novas tecnologias. Muita coisa ele criou e inventou para que as instalações continuem a oferecer segurança durante 24 horas por dia, o ano todo. O Porto não pára. Ele não sossega.

Pensativo, às vezes, com a lembrança dos velhos amigos de trabalho, se surpreende ao perceber que um serviço que era trabalho de 12 ou 15 pessoas, há muito tempo ele faz sozinho. Reclama, nessas horas de solidão, a falta que uma boa conversa faz. De repente, volta à realidade e encara a idéia de que a decisão deve partir exclusivamente dele e, assim, vai e faz. Lembra, também, que se ele envelheceu com os anos, do mesmo modo o Porto tornou-se um senhor de 117 anos a exigir mais cuidados do que há 51 anos atrás, quando iniciou a trabalhar nele, ou há 42 anos, desde que fez a primeira leitura da Régua. Nos momentos de saudosismo, lembra dos antigos administradores como Sena, Fernando Vianna, Campelo, Luis Eugênio, Nelson Neto, e tantos outros colegas, como Nasser, Nenê, Rubens, Moreira, Antônio, Paiva. Tempo em que a Oficina funcionava no hoje Museu do Porto. Tempo em que ajudou na transformação da antiga sede do AGREPO, que era em madeira e que foi entregue aos portuários pelo saudoso jornalista Phelipe Daou. A sua mente passeia e visita a Vila Tocaia, também de sua responsabilidade cuidar e manter durante tantos anos. Noutro instante, se perfila entre outros colegas e trás de volta o Coral do Porto, no qual participou como tenor, sob a regência do maestro Dirson Costa. Difícil é dizer o que ele não fez nesse espaço, que se confunde com a sua casa. Como ele diz: não sei se eu pertenço ao Porto ou se é ele que me pertence, Ele tem ciúmes do seu velho companheiro. Conhece-o palmo a palmo.

Único trabalho em toda a vida. Trabalho no qual sustentou sua família composta da Pedagoga Vanda Maria Batista da Silva, sua companheira de quase 50 anos. Dos filhos Vanderlei, Valderino Filho e Vanderlan, engenheiros, matemáticos, professor universitário da UFAM, com mestrado e doutorado, que tiveram o prazer de ter em suas salas de aula, também na UFAM, o próprio pai, a causar sadias confusões entre os professores e colegas. É bom que se diga que Valderino é Engenheiro Civil, formado em 1998. Cuida, ainda, e com enorme carinho e bondade dos netos Letícia, Vinícius, Jorge Miguel e Gabriel, nos quais tenta com sucesso imprimir o gosto pela vida e pela arte com aprumada responsabilidade, herdados de sua mãe Raimunda Nonata da Silva.

Finalmente, não existe somente o pai, marido, avô e amigo. Nem só de trabalho Valderino pautou a sua bem vivida história. Houve tempo para cantar e tocar instrumentos de samba. Houve tempo para curtir a família e os amigos. Atualmente, com quase 70 anos de idade, se aventura a aprender teclado, e o faz com retumbante interesse. Temos conversado a respeito. Agora, emoção de verdade é quando toca o Hino Nacional, que ele gosta de cantar. E como gosta. Peito estufado, corpo ereto e coração alinhado com a orquestra. Pulmões soltos e voz embargada.

No mais, ainda é o primeiro a chegar ao Porto, antes das 7 horas da manhã, num percurso de sua segunda casa, no Bairro de São Lázaro. Ele sempre acha que a primeira casa é o Porto. Recentemente me falou da sua distância dos holofotes da mídia, apesar de muito conhecido e reconhecido na cidade, como também bastante requisitado pela imprensa. Não quer virar livro nem escrever sua história. Faço esse resumo porque sou teimoso e seu amigo. Passando pelas ruas do centro, as pessoas o cumprimentam respeitosamente e até lhe pedem autógrafo. Ele disfarça, ri e sai de fininho. Até um artista-estátua, reconhecendo-o quando passava, perguntou entre sorrisos sobre a enchente. Quando em cerimônia como esta de hoje, na Assembléia Legislativa, onde recebeu a medalha Ruy Araújo, o seu neto Gabriel, então com 3 anos, disparou alto e bom som: “VALEU, VÔ!!! Eu me uno ao Gabriel neste momento e repito com orgulho e emoção: “VALEU, VALDERINO

plugins premium WordPress